A Igreja no Brasil celebrará, no período de 26 de novembro de 2017, Solenidade de Cristo Rei, à 25 de novembro de 2018, o “Ano do Laicato”.

 

O tema escolhido foi “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na 'Igreja em saída', a serviço do Reino” e o lema: “Sal da Terra e Luz do Mundo”, (Mt 5,13-14).
O Documento 105, que trata do assunto, está dividido em três capítulos, além de uma Introdução e conclusão. O primeiro capítulo, “O Cristão Leigo, Sujeito na Igreja e no Mundo: esperanças e angústias”, trata da descoberta da vocação e missão do cristão leigo e leiga na Igreja e na Sociedade. O segundo capítulo, “Sujeito Eclesial: Discípulos Missionários e Cidadãos do Mundo”, aborda a compreensão da identidade e da dignidade laical como sujeito eclesial e identifica a atuação dos leigos, considerando a diversidade de carismas, serviços e ministérios na Igreja. O terceiro capítulo intitulado, “A Ação Transformadora na Igreja e no Mundo”, faz uma reflexão acerca da dimensão missionária de todos os membros da Igreja.
Apresentarei um resumo do texto documental.
Introdução
O documento inicia sua reflexão a partir da Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, que propõe: “O Caráter secular caracteriza os leigos. A vocação própria dos leigos é administrar e ordenar as coisas temporais, em busca do Reino de Deus”. O Beato Paulo VI lembra: dos leigos, “a sua primeira e imediata tarefa não é a instituição e desenvolvimento da comunidade eclesial – esse é o papel específico dos pastores. A primeira e imediata tarefa dos leigos é o vasto e complicado mundo da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes”.
Contudo, apesar do desenvolvimento da comunidade não ser a sua tarefa primeira, os leigos são chamados a participar da ação pastoral da Igreja (Documento de Aparecida n.211). Portanto, o leigo não pode substituir o pastor naquilo que lhe compete por vocação, como o pastor também não pode substituir o leigo.
A partir da sua vocação específica, cristãos leigos vivem o seguimento de Jesus na família, na comunidade, no trabalho profissional... colaborando, assim, na construção de uma sociedade justa e solidária.
Capítulo 1
O Cristão Leigo, Sujeito na Igreja e no Mundo: Esperanças e Angústias
Sal da Terra e luz do mundo (Mateus 5,13-14), assim Jesus definiu a missão que aos seus discípulos missionários confiou. As imagens do sal e da luz são particularmente significativas se aplicadas aos cristãos leigos. Nem o sal, nem a luz, nem a Igreja e nenhum cristão vivem para si mesmos. No caso dos cristãos, somente surtirão o efeito da Boa Nova, se estiverem ligados a Jesus Cristo (João 15,18).
O grande campo de ação dos cristãos é o mundo. Por isso o Concílio Vaticano II afirma que a Igreja está dentro do mundo e tem a Missão de ser sal da terra e luz do mundo.
Cristãos Leigos nos documentos da Igreja
Em 1968, o documento de Medellin (n.10.26) destacava a importância da ação dos leigos cristãos na Igreja e na sociedade. Tal tema se repetiu no Documento de Puebla (1979- n.786) que identifica os leigos como homens e mulheres da Igreja no coração do mundo. O Documento de Santo Domingo (1992- n.98) os chamava de protagonistas da transformação da sociedade. Já o Documento de Aparecida (2007-n.213) pediu maior abertura de mentalidade para que entendam e acolham o ser e o fazer dos leigos na Igreja, que por seu Batismo e Confirmação são discípulos e missionários de Jesus Cristo.
Em 1999, o episcopado brasileiro lançou o documento 62 ”Missão e Ministério dos Cristãos Leigos” que oferece à Igreja orientação para o discernimento sobre o laicato e sua atuação na organização dos ministérios na comunidade.
Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (n.20.24), o Papa Francisco lança um vigoroso chamado para que todo o povo de Deus saia para evangelizar. Por último, o Ano da misericórdia (08/12/2015 a 20/11/2016) convida a abrir as portas do coração à prática das obras da misericórdia e ir ao encontro dos excluídos ou discriminados.
O Mundo Globalizado
Apesar de tantos avanços da atual sociedade globalizada (tecnologias, sistema jurídico e financeiro, sistema de controle social, e outros), há deficiências gritantes em relação ao direito comum das pessoas e dos povos, bem como em relação ao que permite a cada um viver a verdadeira felicidade. Por isso é chamada de “globalização da indiferença”.
Precisamos vencer a indiferença com a conversão do coração e com as obras de misericórdia para conquistar a tão desejada paz, que se inicia aqui, mas que só pode ser plena em Deus. Caim se mostrou indiferente ao irmão. O bom samaritano, pelo contrário, deixou-se comover, aproximou-se e cuidou do próximo. Venceu a indiferença pela misericórdia. A globalização da indiferença torna o homem insensível.
Contradições do Mundo Globalizado
Os grandes problemas humanos estão presentes, em nível mundial e local, e expõem por si mesmos as contradições do sistema globalizado:
1-desenvolvimento da pobreza (o desemprego, a falta de moradia, a fome e a violência são hoje fatos mundiais); 2-confiança no mercado e crises constante (O Estado defende os mercados financeiro e produtivo investindo bilhões nestes ambientes, em detrimento das múltiplas formas de exclusão que persistem, como falta de moradia, escolas e outros itens básicos para uma vida digna); 3- enriquecimento de uns e a degradação ambiental; 4- bem- estar de uns e exclusão da maioria: a humanidade permanece dividida entre alguns que têm muito e muitíssimos que não têm o mínimo para subsistir; 5- busca de riqueza e tráfico: tanto o tráfico de drogas como o de pessoas, o ser humano não passa de mercadoria que esvazia a sua dignidade; 6- segregação de grupos sociais privilegiados e segregação em bolsões de pobreza e miséria: a violência é o grande flagelo que também decorre dessa segregação e atinge todos os cidadãos; 7- redes sociais virtuais e indiferença real
É preciso dizer não a tudo isso! É preciso converter o coração!
Discernimentos necessários
A Igreja vive dentro deste mundo globalizado. O desafio do cristão será sempre viver no mundo sem ser do mundo (Jo 17,15-16). Discernir significa aprender a separar as coisas positivas das negativas que fazem parte do mesmo modo da vida atual.
Viver na Igreja significa aprender permanentemente a seguir o caminho e a verdade do Evangelho, para viver a sua missão no mundo de hoje.
Tentações da Missão
O mundo influencia a Igreja, oferece-lhe tentações, inspira desvios, impõe modelos de vida, a ponto de mundanizá-la. Daí a necessidade contínua de renovação e conversão. Eis algumas tentações:
1-    ideologização da mensagem evangélica. Significa interpretar o Evangelho fora da Bíblia e da Igreja para defender interesses pessoais.
2-    reducionismo socializante. Consiste em reduzir a Palavra de Deus a partir da ótica puramente social.
3-    ideologização psicológica. Entende o encontro com Jesus Cristo como uma dinâmica psicológica do autoconhecimento.
4-    proposta gnóstica. Costuma ocorrer quando grupos de “católicos iluminados” julgam ter uma espiritualidade superior à espiritualidade dos outros.
5-    proposta pelagiana. Busca a solução dos problemas sem contar nem recorrer à graça de Deus.
6-    funcionalismo. Consiste em apostar na função e na prosperidade do plano pastoral. Os sacramentos e a evangelização se transformam em função burocrática, sem conversão. A Igreja é assim transformada numa ONG.
7-    clericalismo. Há duas vertentes: a dos padres que centralizam tudo em sua pessoa e a dos leigos, que querem e esperam pelo padre naquilo que eles – leigos – podem fazer.
8-    individualismo. A perda do senso de eclesialidade.
9-    secularismo. É a negação da religiosidade como dimensão do ser humano
A necessária mudança de mentalidade e estrutura
A Igreja não é uma ilha de perfeitos, mas uma comunidade missionária e de aprendizagem em seu modo de ser, organizar e agir como seguidora de Jesus Cristo. Viver e atuar neste mundo globalizado implica mudança de mentalidade e de estruturas.
A inserção na realidade do mundo exige da Igreja como um todo ser:
1- Comunidade de discípulos de Jesus Cristo; 2- Escola de vivência cristã; 3- Organização comunitária feita de diversidade de sujeitos investidos de dons e funções distintos; 4- Comunidade inserida no mundo como testemunha e servidora do Reino de Deus que busca inserir a Boa Nova em todos os ambientes sociais; 5- Povo de Deus que busca também os sinais do Reino no mundo; 6- Comunidade que se abre permanentemente para as urgências do mundo; 7- Comunidade que mostra a fraternidade de ajuda e serviço mútuo, com especial atenção às pessoas mais frágeis e necessitadas; 8- Igreja em saída, de portas abertas, que vai em direção aos outros para chegar às periferias humanas e acompanhar os que ficaram caídos à beira do caminho.
A Igreja direcionada e pautada pelo Evangelho de Jesus Cristo é sinal do Reino de Deus no mundo. Ela caminha para frente, dentro da história, com lucidez e esperança, com paciência e misericórdia, com coragem e humildade. A Igreja, com estas características, incluindo dentre elas as atitudes de escuta e diálogo, sem abrir mão dos ensinamentos de Jesus, insere-se no mundo como quem aprende e ensina, sabe dizer sim ao que é positivo e não ao que prejudica a dignidade humana. Assim a Igreja se insere no mundo com a atitude do serviço iluminado pela postura amorosa e serviçal presente na Santa Ceia.
Capítulo 2
Sujeito Eclesial: discípulos missionários e cidadãos do mundo
Este segundo capítulo aborda o testemunho dos leigos à luz da eclesiologia do Concílio Vaticano II da Igreja. Onde a base da reflexão, está no fato de todos, pelo Batismo, tornarem-se membros vivos do povo de Deus.
Igreja, Comunhão na diversidade
No povo de Deus, que é a Igreja, se realiza na diversidade de rostos, carismas, funções e ministérios, a sua unidade. Em função do bem comum, cada membro da comunidade coloca os dons recebidos do Espírito, a serviço da construção do Reino.
Os modelos de organização eclesial podem mudar ao longo da história; permanece, no entanto, a regra mais fundamental: a primazia do amor (1 Cor 13), da qual advém a possibilidade de integrar organicamente a diversidade e o serviço de todos os que exercem alguma função dentro da comunidade.
Igreja, Povo de Deus peregrino e evangelizador
A noção da Igreja como povo de Deus lembra que a salvação, embora pessoal, não considera as pessoas de maneira individualista, mas como inter-relacionadas e interdependentes. A inter-relação e a interdependência levam a valorizar a diversidade de rostos, de grupos, de membros, de carismas e funções deste povo.
O sujeito da evangelização é todo o povo de Deus, isto é, a Igreja. Ela não pode perder de vista o serviço à vida e à esperança, através de uma obra evangelizadora audaz e missionária.
A Igreja, Corpo de Cristo na história
Os cristãos são chamados a serem os olhos, os ouvidos, as mãos, a boca, o coração de Cristo na Igreja e no mundo. Esta realidade da presença de Cristo é explicitada na imagem proposta por Paulo, a de que a Igreja é o Corpo de Cristo (1 Coríntios 12,12-30; Romanos 12,4-5). Cristo vive e age na Igreja, que é seu sacramento, sinal e instrumento.
O Apóstolo Paulo deixa claro que Cristo é a cabeça deste corpo (Efésios 1,22). A primazia do Cristo-cabeça lembra à Igreja que Ele é o centro de tudo.
A Iniciação à Vida Cristã
O Concílio Vaticano II valorizou a fundamentação sacramental da Igreja, especialmente pelos sacramentos da iniciação cristã. Esses sacramentos fundam a igual dignidade de todos os membros de Cristo. O Batismo nos incorpora a Cristo, pois fomos batizados num só Espírito para formarmos um só corpo (1 Coríntios 12,13; Efésios 4,5). A Crisma nos unge com o óleo do mesmo Espírito de Cristo para sermos defensores e difusores da fé. A Eucaristia une a todos na mesma fração do pão (1 Coríntios 10,17).
Identidade e dignidade da Vocação Laical
A distinção que o Senhor estabeleceu entre os ministros sagrados e o restante do povo de Deus contribui para a união já que os pastores e os demais fiéis estão ligados uns aos outros por uma vinculação comum: os pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestam serviço uns aos outros e aos fiéis: e estes deem alegremente a sua colaboração aos pastores da Igreja.
Por isso, não é evangélico pensar que os clérigos – ministros ordenados – sejam mais importantes e mais dignos, sejam mais Igreja do que os leigos. Esta mentalidade errônea, em seu princípio, esquece que a dignidade não advém dos serviços e ministérios que cada um exerce, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo Batismo.
O Sacerdócio comum
Os cristãos leigos são portadores da graça batismal, participantes do sacerdócio comum, fundado no único sacerdócio de Cristo. O sacerdócio batismal concede direitos na Igreja. Dentre outros, lembramos alguns: associar-se em movimentos de espiritualidade e de apostolado, conhecer a fé, participar dos sacramentos, manifestar-se e ser ouvidos em questões de fé, cooperar na edificação do povo de Deus, educar filhos na fé cristã. Aos direitos acrescentam-se os deveres: participar do múnus profético, sacerdotal e real, colaborar com os padres na ação evangelizadora, dar testemunho do Evangelho em todos os ambientes. Para os exercícios destes direitos e deveres, nunca deveria faltar-lhes a ajuda dos ministros ordenados. A renovação da Igreja não será possível sem a presença dos leigos, por isso, lhes compete, em grande parte, a responsabilidade do futuro da Igreja.
O perfil Mariano da Igreja
Para compreendermos, em toda a sua grandeza e dignidade, a natureza e missão dos cristãos leigos, podemos dirigir o nosso olhar para Maria. Nela encontramos a máxima realização da existência cristã. Por sua fé e obediência à vontade de Deus e por sua constante meditação e prática da Palavra, ela é a discípula mais perfeita do Senhor.
Perseverando junto aos apóstolos à espera do Espírito, Maria cooperou com o nascimento da Igreja missionária, imprimindo-lhe um selo mariano e maternal, que identifica profundamente a Igreja de Cristo. Maria é a figura da Igreja. Ela precede todos os caminhos rumo à santidade. Na sua pessoa a Igreja já atingiu a perfeição.
Em Maria, mulher leiga, santa, Mãe de Deus, os fiéis leigos encontram razões teológicas para a compreensão de sua identidade e dignidade no povo de Deus. Maria é membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e na caridade.
Vocação Universal à Santidade
Os cristãos leigos, homens e mulheres, são chamados antes de tudo à santidade. A santidade de vida torna a Igreja atraente e convincente, pois os santos movem e abalam o mundo. Se nem todos são chamados ao mesmo caminho, ministérios e trabalhos, todos, no entanto, são chamados à santidade.
Os cristãos leigos se santificam de forma peculiar na sua inserção nas realidades temporais, na sua participação nas atividades terrenas. Santificam-se no cotidiano, na vida familiar, profissional e social. O horizonte para que deve tender todo caminho pastoral é a santidade.
Âmbitos de Comunhão Eclesial e atuação do leigo como Sujeito
O Documento insiste que a presença e atuação dos cristãos leigos e leigas se  dá na Igreja e no mundo. No âmbito da Igreja, há muitos espaços nos quais os cristãos exercem o seu ser e seu agir cristãos. Citamos alguns deles:
*A FAMÍLIA: é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. É a beleza de ser amado primeiro: os filhos são amados antes de chegar. Na celebração sacramento do matrimônio, os cristãos leigos exercem seu sacerdócio batismal. Eles são os ministros da celebração. Exercem seu sacerdócio, não só na celebração, mas igualmente na consumação do sacramento, na geração e educação dos filhos. Santificam-se no cotidiano da família, a Igreja doméstica.
*A PARÓQUIA: são espaços para a vivência da unidade na diversidade, em que os cristãos leigos atuam como sujeitos. As Paróquias, sejam em sua Matriz ou em suas Capelas, são formas concretas de comunhão e participação, nas quais o cristão leigo atua como sujeito eclesial.
*Os Conselhos Pastorais e os Conselhos de Assunto Econômico: consequência do espírito da Igreja vivida em comunhão, fundamentada na Santíssima Trindade. O Conselho de Pastoral é uma ferramenta clara da atuação dos leigos em suas comunidades, pois ativamente tomam parte nas decisões que lhe cabem. O Conselho de Assuntos Econômicos é determinante para todas as pessoas jurídicas da Igreja e têm a tarefa de colaborar na administração, manutenção e planejamento financeiro das comunidades, paróquias e (Arqui)dioceses. Os Conselhos devem ser apoiados, acompanhados e respeitados.
*As Pastorais e Movimentos: Pastoral é toda a ação da Igreja e sua missão neste mundo. A Igreja não existe para si mesma, mas em função da sua missão de anunciar Jesus Cristo e fazer acontecer o Reino de Deus.
A missão evangelizadora da Igreja se realiza em três etapas:
a. Ação Missionária: É onde se dá o primeiro anúncio de Jesus Cristo, é o quérigma. A ação Missionária é a atividade que leva as pessoas a uma adesão e conversão a Jesus Cristo. Aqui se colocam os movimentos, cuja função  é anunciar o quérigma.
b. Ação Catequética: Uma vez que a pessoa recebeu o anúncio precisa agora educar e aprofundar a fé.  Esta é a segunda etapa, é o momento do aprofundamento e ampliação da experiência da fé, seus elementos e suas exigências.
c. Ação Pastoral: já tendo sido iniciados na fé pela catequese, os cristãos necessitam alimentar a sua própria fé, necessitam crescer sempre mais. Para tanto, expressam sua fé em obras, em serviço aos irmãos e à comunidade. Neste sentido, pastoral é tudo aquilo que a Igreja realiza e que é distinto de evangelização e catequese. Destacam-se como ação pastoral: o serviço aos necessitados, o desenvolvimento da espiritualidade, a participação na comunidade, etc.
Serviço Cristão ao Mundo
A atuação cristã dos leigos no social e no político não deve ser considerada ministério, mas serviço cristão ao mundo na perspectiva do Reino. Assim, a participação consciente e decisiva dos cristãos em movimentos sociais, entidades de classe (sindicatos), partidos políticos, conselhos de políticas públicas e outros, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja, constitui-se num inestimável serviço à humanidade e é parte integrante da missão de todo o povo de Deus. Portanto, ser cristão, sujeito eclesial e ser cidadão não podem  ser vistos de maneira separada. Permanecendo Igreja, como ramo na videira (João 15,5) o cristão leigo transita no ambiente eclesial (Igreja) ao mundo civil, para, a modo de sal, luz (Mateus 5,13-14) e fermento (Mateus 13,33; Lucas 20,21), somar com todos os cidadãos de boa vontade, na construção da cidadania plena para todos. Não é preciso sair da Igreja para ir ao mundo como não é preciso sair do mundo para entrar e viver na Igreja.
Capítulo 3
A ação transformadora na Igreja e no Mundo
Antes de deixar este mundo, Jesus Cristo enviou seus discípulos em missão: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura” (Marcos 16,15). Jesus envia seus discípulos como fermento, sal e luz ao mundo. O fermento, quando misturado à massa, desaparece. No entanto, a massa já não é mais a mesma. A ação dos cristãos no mundo tem a mesma intenção: transformar o mundo para melhor.
Igreja Comunidade Missionária
A Igreja em sua missão está a serviço do Reino de Deus. No entanto, a Igreja atua no mundo, lida com as realidades terrenas e sem desprezá-las, precisa ter os olhos fixos nas realidades últimas. Por isso a Igreja em não pode acomodar-se e tem a tarefa de fazer-se próxima e companheira, para curar feridas e aquecer o coração. A Igreja é comunhão no amor, seguidora de Cristo e servidora da humanidade. Por isso a essência da Igreja é a missão, a Igreja é toda ela missionária. Podemos dizer, a Igreja é a comunidade de missionários que age na terra segundo o modelo das três pessoas divinas, que tudo fazem em vista do Reino, do amor, justiça e paz.
O Papa Francisco tem insistido que quer uma Igreja de portas abertas: missionária, consciente, misericordiosa... Mas ao dizer isso, não significa abdicar da verdade ou desprezar os ensinamentos de Cristo, mas quer dizer, que não podemos ficar tranquilos em nossa cômoda fé, enquanto tantos irmãos ainda não conhecem Jesus!
Por isso, a vida da Igreja é uma missão. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus. O mesmo Papa afirma que cada cristão, consciente do seu batismo, deve dizer: “Eu sou uma missão nesta terra e para isso estou no mundo”. Quando todos os cristãos, leigos, como também os ministros ordenados tiverem esta consciência faremos a passagem de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária.
O cristão discípulo missionário enfrentará como profeta, as realidades que contradizem o Reino de Deus e insistirá em dizer: Não a uma economia da exclusão. Não à cultura do descartável. Não à especulação financeira. Não à desigualdade social que gera violência. Não à preguiça de anunciar o Evangelho. E não a uma vida cristã de fachada.
Uma Espiritualidade Encarnada
Uma espiritualidade encarnada caracteriza-se pelo seguimento de Jesus, pela vida no Espírito, pela comunhão fraterna e pela inserção no mundo. Não podemos querer um Cristo sem carne e sem cruz. A espiritualidade cristã sempre terá por fundamento os mistérios da encarnação e da redenção de Jesus Cristo. Esse enfoque deve permear a formação laical desde o processo da iniciação cristã.
A partir de Jesus Cristo, os cristãos leigos infundem uma inspiração de fé e amor nos ambientes e realidade em que vivem e trabalham. Em meio à missão, como sal, luz e fermento, leigos e leigas, nos ambientes em que vivem no mundo, testemunham sua identidade cristã, como ramos na videira, na comunidade, na fé, oração e partilha.
Para que esta atitude esteja fortalecida, a oração e a contemplação são fundamentais. É preciso cultivar um espaço interior dinamizado por um espírito contemplativo que permita um encontro significativo com o Deus revelado por Jesus Cristo, que nos permite descobrir que somos depositários de um bem que humaniza, que nos ajuda a viver uma vida nova, portanto, a buscar esta vida nova para todos.
O verdadeiro trabalhador da vinha nunca deixa de ser discípulo. A experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo sempre renovada é a única capaz de sustentar a missão. Por isso o discípulo missionário deve dedicar tempo à oração sincera, que leva a saborear a amizade e a mensagem de Jesus.
Em virtude do Batismo, que está na origem do sacerdócio comum dos fiéis, os cristãos leigos são chamados a viver e a transmitir a comunhão com a Trindade, fonte de nossa vida comunitária e do amor transbordante que devemos testemunhar.
O Deus, uno e trino, é fonte e modelo de toda vida comunitária. Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos (1 Coríntios 12,4-6).
Um desafio para os cristãos leigos é superar as divisões (Atos 2,42-45;4,32-35) e avançar no seguimento de Cristo, aprendendo e praticando as bem-aventuranças do Reino, o estilo de vida do Mestre Jesus: sua obediência ao Pai, compaixão diante da dor humana, amor serviçal até o dom de sua vida na cruz: “ Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8,34).
Espiritualidade da Comunhão e Missão
Em sua inserção no mundo, os cristãos leigos são convidados a viver a espiritualidade de comunhão e missão. Comunidade missionária, a Igreja está voltada ao mesmo tempo para dentro e para fora. Para que este movimento seja eficaz, é necessária a espiritualidade da comunhão que gera a abertura ao diferente. O outro não é apenas alguém, mas um irmão, dom de Deus. O outro é diferente de mim. Esta diferença nos distingue, mas não nos separa. Espiritualidade de comunhão e missão significa respeito mútuo, diálogo, proximidade, partilha, benevolência e beneficência.
A espiritualidade da comunhão e missão se comprova no esforço e na prática da misericórdia, do perdão da reconciliação e da fraternidade, até o amor aos inimigos. Sem a espiritualidade de comunhão e missão caímos nas “máscaras de comunhão” e damos espaço ao terrorismo da fofoca, às suspeitas, ciúmes, invejas que são sentimentos e atitudes destrutivas.
Espiritualidade Popular
A religiosidade popular é fruto do evangelho inculturado, é um lugar teológico ao qual devemos prestar atenção porque tem muito para nos ensinar.
Pensemos na fé firme das mães rezando ao pé da cama de seus filhos doentes, na carga imensa de esperança contida numa vela acesa, no olhar que se volta para o crucifixo, para o céu, para Maria e os santos. A espiritualidade popular, que também precisa ser evangelizada, revela a fé e o amor a Deus neste ambiente de secularização e de indiferença religiosa em que vivemos. A espiritualidade popular é uma confissão de fé que evangeliza filhos, vizinhos, parentes, amigos e toda a sociedade.
A presença e organização dos Cristãos Leigos no Brasil
Durante a primeira metade do século XX, constatamos a presença das confrarias e associações que em geral eram conduzidas pelo clero. Em 1935, no Brasil, foi oficializada a Ação Católica. Nos anos que antecederam o Concílio Vaticano II, os membros da Ação Católica descobriram que sua ação decorria do batismo recebido. Esta consciência gerava o compromisso com a ação transformadora da sociedade, buscando impregná-la dos valores evangélicos. Daí surgiram , mais à frente, os movimentos destinados ao primeiro anúncio do Evangelho (quérigma) e as chamadas pastorais sociais e de evangelização.
O Conselho Nacional do Laicato Do Brasil
Nos anos de 1970, no Brasil, fruto do Concílio Vaticano II, a 11ª Assembleia Geral da CNBB criou o então Conselho Nacional dos Leigos, hoje  Conselho Nacional do Laicato do Brasil. O Documento de Aparecida, em seu número 215, destaca: “Reconhecemos o valor e a eficácia dos Conselhos paroquiais, Conselhos Diocesanos e nacionais de fiéis leigos, porque incentivam a comunhão e a participação na Igreja e sua presença ativa no mundo”.
O tema do laicato retornou na Assembleia da CNBB em 1998, que gerou o Documento 62 sobre a Missão e Ministérios dos leigos. Este documento, no número 191, diz: “é desejável que em sua missão os cristãos leigos, superando eventuais divisões e preconceitos, busquem valorizar suas diversas formas de organização, em especial os Conselhos de Leigos em todos os níveis”
Em 2004 a CNBB aprovou o estatuto do Conselho Nacional dos Leigos do Brasil (CNLB). Além de ser um organismo de comunhão, o CNLB tem por objetivo criar e apoiar mecanismos de formação e capacitação que ajudem o laicato a descobrir sua identidade, vocação, espiritualidade e missão, com vistas à construção de uma sociedade justa e fraterna, sinal do Reino de Deus.
Diversas formas de Expressão Laical
Destacamos a presença muito viva das associações laicais nascidas a partir dos carismas das ordens e congregações religiosas, que contribuem para que muitos cristãos leigos vivam profunda espiritualidade e assumam seu papel na sociedade. A Igreja conta hoje com uma gama variada de associações de fiéis que agregam leigos, outras que agregam leigos e clérigos e ainda aquelas que contemplam leigos consagrados. Há também as novas comunidades, que têm emergido com significativa força, centradas nos laços comunitários, que pedem de cada membro uma adesão estável visível e institucionalizada. Muitas delas configuram um espaço misto de vida leiga, religiosa e clerical.
Todas as formas de associação existem para a edificação da Igreja e para contribuir com a sua missão no mundo. Nesse sentido, são de grande atualidade as orientações dadas pelo Apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: os dons existem para a edificação da Igreja e não podem servir como busca de poder religioso dentro da comunidade (1 Coríntios 12,28 - 13,14)
A formação do Laicato
Cada organização laical deve assumir a formação de seus membros como primordial, o que exige empenho de todos. Sem uma formação permanente, contínua e consistente, o cristão leigo corre o risco de estagnar-se em sua caminhada eclesial. A formação do sujeito eclesial, para ser integral precisa considerar as dimensões humana e espiritual, teológica e pastoral, teórica e prática.
A formação de Sujeitos Eclesiais
A Igreja, particularmente os bispos e os presbíteros, tem a missão de formar cristãos leigos missionários, conscientes e ativos, de forma que cada qual venha a contribuir com som o anúncio do Evangelho até os confins da terra.
Fundamentos da formação e princípios da formação do Laicato
A formação é uma exigência de nossa condição humana, pois convivemos com limitações. Isso exige de todo o Povo de Deus, e de cada um em particular, a busca permanente da compreensão e da vivência da nossa fé.
A formação deve ser entendida como uma educação permanente da fé. Dentre outros, há na formação, um aspecto sistemático e formal como atividade planejada e executada. Logo, a formação deve contribuir para que o cristão leigo viva plenamente o seguimento de Jesus Cristo.
A formação dos leigos deve ser fundamentada na Palavra de Deus e nos documentos do Magistério da Igreja. A formação do laicato católico terá as seguintes características:
1-    Mistagógica - relacionada com a catequese, a liturgia e a vida para favorecer a conversão pessoal e pastoral.
2-    Integral - para responder aos aspectos da fé, da razão, da emoção e da espiritualidade.
3-    Missionária e Inculturada - para que os cristãos, conscientes da sua vocação e missão, vão ao encontro dos demais em sua realidade.
4-    Articulada – de modo a superar as separações entre fé e vida, Igreja e mundo, clero e leigo.
5-    Prática - de modo que o cristão leigo e leiga se insiram na realidade da sociedade como agentes de transformação.
6-    Dialogante - que destrói os muros que separam as pastorais e as comunidades, superando isolamentos e autoritarismos eclesiais e sociais.
7-    Específica - de modo que atenda às necessidades de cada ação pastoral na Igreja e na Sociedade.
8-    Permanente e atualizada – capaz de acompanhar e responder com prontidão aos desafios advindos da realidade global e local.
9-    Planejada - pedagogicamente organizada a partir de projetos tecnicamente elaborados com garantia de recursos capazes de responder aos propostos nos itens anteriores.
Na próxima edição de nosso jornal, concluiremos a exposição do 3º capítulo do Documento 105. Um abraço a todos e até lá!

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